Na semana passada, Robert Drysdale deu a faixa-preta de Jiu-Jitsu para um de seus alunos mais ilustres, o ex-campeão dos meio-pesados do UFC Forrest Griffin.
GRACIEMAG.com entrou então em contato com Drysdale em sua academia, em Las Vegas, no centro de treinamento onde feras do MMA como Frank Mir, Martin Kampmann e Griffin vão diariamente afiar o Jiu-Jitsu.
A verdade é que o Forrest dá um amasso em 95% dos faixas-pretas por aí” Robert Drysdale
Forrest mereceu mesmo a faixa-preta? Como você avalia o Jiu-Jitsu dele?
Drysdale: Talvez baste dizer que já vi muito faixa-preta campeão mundial tomar sufoco do Forrest de kimono. E também vi campeão do ADCC treinar dez minutos com ele e não fazer um ponto sequer. O Forrest já competiu sem kimono, e inclusive venceu pessoas de nome e com currículo no Jiu-Jitsu.
O que motivou você a dar a faixa-preta para o Forrest agora?
O que define um faixa-preta? Cada professor tem seus critérios – que raramente são os mesmos para todos. Os meus são os seguintes, nesta ordem: caráter, disciplina, técnica, resultados. E o Forrest é qualificado em todos. Tem caráter, treina mais que qualquer outra pessoa que eu conheça e suas exibições no UFC atestam sua técnica e resultados.
Como é o Griffin aluno?
Ele treina todo dia, é um apaixonado pelo esporte e é disciplinado e humilde, sempre fazendo perguntas e buscando aprender coisas novas. Seria fácil para um cara na posição dele, como astro do UFC, se colocar num pedestal e pensar que não tem mais nada para aprender – o que acontece com muita gente, especialmente no MMA. Mas não, o cara vem na aula, faz posição com os faixas-brancas, não reclama e nunca pediu tratamento especial. Além da técnica, tem a cabeça de um faixa-preta de Jiu-Jitsu.
Ele até arrisca uma guarda-aranha de vez em quando” Drysdale
Forrest treina muito de kimono?
Treina às vezes. Claro que ele não tem intenção de competir de kimono, por isso não faria sentido treinar exclusivamente de pano. Mas o kimono nos ensina certas coisas que sem kimono não se aprende, e o Forrest entende isso perfeitamente bem. Ele até arrisca uma guarda-aranha de vez em quando.
Você deu a faixa-marrom para o Martin Kampmann, outra estrela que demonstrou bom chão nas últimas lutas, contra Paulo Thiago e Jake Shields… Como avalia sua técnica?
Martin vem treinando comigo faz algum tempo, foi um dos meus primeiros alunos aqui em Vegas. Também tem a mente aberta e gosta de aprender. Poucas vezes vi alguém evoluir de maneira tão rápida. O Jiu-Jitsu dele obviamente tem o MMA como foco, mas ele está sempre implementando novas posições e finalizações ao seu jogo. Tem uma atitude positiva e acrescenta muito à academia.
Por que é sempre essa polêmica toda na internet quando um astro do MMA ganha a faixa-preta de Jiu-Jitsu?
Acho que as pessoas esperam que todos percorram o mesmo caminho até a preta. A maioria começa como adolescente, treina exclusivamente de kimono, alguns são competidores, outros não, mas a maioria tem uma história parecida. Quando alguém é promovido e percorre outro caminho que não seja o tradicional, isso causa um pouco de desconfiança e ressentimento. Mas a verdade é que o Forrest dá um amasso em 95% dos faixas-pretas por aí.
Como foi a experiência de ser head-coach de Jiu-Jitsu da Xtreme Couture?
Foi legal, pude treinar com pessoas de estilos totalmente diferentes a que eu estava habituado. Fiz amigos e aprendi muito sobre o esporte. Pude ajudar diversos atletas e acho que posso dizer que tive uma influência positiva de vários lutadores aqui em Vegas. Ainda tenho uma ótima relação com o Randy Couture e com todos na Xtreme Couture. Ainda faço meu sparring lá duas vezes por semana, mas hoje ensino exclusivamente na minha academia, Drysdalejiujitsu.com .
Como o Jiu-Jitsu e o MMA estão caminhando?
São dois esportes diferentes e que evoluem de maneira diferente. Tem sempre suas semelhanças, mas é preciso reconhecer que o Jiu-Jitsu dito puro não funciona mais sozinho. Este discurso está fossilizado, é da década de 80. Pode se aprender muito com outras modalidades, como wrestling, sambo, boxe, muay thai, judô.
Pensa em competir de pano em 2011?
Dediquei 11 anos da minha vida exclusivamente ao Jiu-Jitsu competitivo. Competi o Mundial, Brasileiro, ADCC, Estadual, Brasileiro de Equipes etc. Lutei com os melhores lutadores do mundo. Ganhei de uns e perdi de outros. Mas para ser sincero não tenho mais interesse em competir. Estou com quase 30 anos e não pretendo dedicar o restante da minha juventude e carreira competindo por diversão. Tenho outros objetivos e metas.
Algum recado final para a comunidade do Jiu-Jitsu e leitores do GRACIEMAG.com?
Treine, divirta-se, compita, faça amigos, treine estilos diferentes, tente posições novas, se afaste de rixas de academia e da politicagem que só atrasam a vida. Foque energia na sua evolução como lutador e não em rivalidades infantis. Reconheça que somos todos iniciantes e temos muito a aprender, independente de faixa.